Completei seis meses de amamentação exclusiva e agora o bebê começa a comer. Banana, mamão e outras frutinhas e legumes começaram a aparecer no cardápio dele. E ovo, que ele odiou e vamos ter que trabalhar nisso. Até um ano, no entanto, essas comidinhas são apenas experiências sensoriais para ele aprender a comer, o que sustenta mesmo é o leite materno que ele, felizmente, ainda bebe muito bem.
Não foi fácil. Não é, em alguns dias ainda não é fácil. O corpo cansa, meu cérebro derrete em alguns dias especialmente difíceis e às vezes ele morde o peito com a gengiva ou agarra com as mini unhas e dá vontade de chorar. Ainda assim, foi pior, o começo com as fissuras, o peito todo dolorido e precisando ser massageado, o excesso de leite, a confusão de bico que rolou quando dei chupeta pra ele (e nunca mais) e, por fim, ele precisou operar do freio e a pega mudou, isso depois de quase 3 meses e a amamentação estabelecida, o que fez virar tudo de novo.
Meu filho é forte, enorme, e essa jornada tem sido de muito autoconhecimento e, talvez também por isso, seja difícil. Ainda que eu me sinta vitoriosa contra um sistema que te joga para a fórmula por qualquer coisinha, eu confesso que não hesitaria por um minuto caso houvesse a recomendação médica (verdadeira) para o uso de fórmula e mamadeira. Felizmente, estou numa posição de privilégio em que a pediatra é a favor da amamentação e sigo trabalhando remotamente para que possa continuar com a livre demanda. Ah é, tem isso também, não tem hora e nem lugar, o bebê tem fome e vai comer, ponto.
Só que esse lugar de privilégio também me coloca num lugar delicado onde às vezes eu me sinto muito mal de comemorar essas vitórias, porque não quero dar a impressão para as mães que dão fórmula que elas não são vitoriosas como eu - acho que toda mãe vive a sua vitória pessoal em manter um ser humano inteiro vivo e isso já é MUITA COISA. Ainda assim, comemorei. São seis meses sem gastar um real com fórmula, que custa bem caro, e sendo fonte de alimento e porto seguro do meu filho.
A verdade é que o sistema está contra ambas as mães, a do leite materno e a da fórmula. Uma licença maternidade muito pequena de apenas 120 dias, 4 meses, quando a recomendação é a amamentação exclusiva até os seis meses. A licença paternidade inexistente que impossibilita até que o pai crie vínculo com a criança e que gera a sobrecarga na mãe, fora que a família fica dependendo de rede de apoio (avós, tios, amigos) ou de profissionais (babás, diaristas) para funcionar - e tudo tem um custo, se não financeiro, emocional.
A teta é treta. Nascer é treta. Crescer é treta. O sistema é opressor e sobreviver é treta.
Maternidade. Picasso, 1905
Queria colocar aqui que li, ouvi e vi alguma coisa, mas não consegui ler, ver ou ouvir qualquer coisa nessa última semana.
O que eu vou ler é o novo livro da Tati, um conto que você pode comprar aqui.
Também vou ler o “Meu filho não come” do Dr. Carlos Gonzalez porque, até então, meu filho é bom de garfo, mas vai que ele muda, né? Não vou colocar o link porque acho o preço dele ofensivo (e comprei mesmo assim).
Quero ver a terceira temporada de Sweet Magnolias, na Netflix. É aquelas séries bonitinhas de cidadezinha americana que nada acontece.
É isso, nos vemos semana que vem (talvez).