Pensei duzentas vezes se escreveria isso, mas decidi que vou sim, e vou repetir a palavra nojento muitas vezes, para deixar clara a minha indignação.
Achei que a gravidez me daria uma aura iluminada livre de homens nojentos, como se o sagrado do meu corpo gerando uma vida com intestinos e cílios me deixasse finalmente com o corpo livre de julgamentos e, mais ainda, de elogios não solicitados nojentos.
Ledo engano. Saindo do metrô, segurando a parte de baixo da protuberância que parece uma bola de futebol pela dor de subir as escadas, um homem nojento se viu no direito de me chamar de gostosa. Absolutamente do nada. Veja bem, eu estava com uma legging, uma blusinha, uma camisa por cima, tênis e máscara, mas o cara me chamou de gostosa. Na hora eu fiquei sem reação, nem respondi porque o choque foi mais rápido e a constatação de que nem grávida eu ficaria livre de homens nojentos foi avassaladora. No que me virei pra responder, o homem nojento já tinha sumido.
Achei que o patriarcado iria me ajudar nessa, mas nem pra isso essa bosta serve. Pensei que um macho vendo no ventre a concepção de outro macho faria com que ele recuasse, mas não recua, como se a fêmea fosse pública.
Comentei no twitter e os relatos foram os piores possíveis. Aparentemente, homens nojentos fetichizam com grávidas - o que não entendo, porque nunca me senti menos gostosa, com dores estranhas e vontade de socar a cara de alguém, exceto quando estou alisando a barriga e conversando com o homem (que não será nojento) que mora dentro dela.
Saber que eu vou ter um menino dentro dessa estrutura machista me fez pensar muito no tipo de educação que eu vou dar em casa - quero, claro, formar um aliado. Quando ainda não sabíamos se era menina ou menino, pensei que é mais fácil criar uma menina empoderada do que um menino que não vá usar dos privilégios do patriarcado mesmo sem se dar conta disso.
O papel - meu e de meu companheiro - como pais de um menino é fazer com que ele se torne um homem legal e se afaste da categoria de homem nojento. Um trabalho árduo, difícil, de base, que felizmente vai ser feito a quatro mãos, mas que é extenuante e depende de um monte de fatores externos também.
Esse homem nojento que mexeu comigo foi embora pelas escadas do metrô e o comentário dele aluguou um triplex na minha cabeça, mas também me ajudou a perceber que tipo de pessoa eu vou tentar fazer com que meu filho não seja. Pelo menos sei que o patriarcado continua sendo o inimigo e agora vou ter mais um aliado para lutar contra ele.
Lendo: Trono de Vidro - Reino das Cinzas - Livro 6 da saga. O livro 5 deu uma boa desandada e rolou até um s3xo élfico absolutamente desnecessário, mas o livro 6 parece que não tem isso, não. Vamos ver.
Vendo: She-Hulk é perfeita e tem o melhor final de temporada das séries da Marvel. Espero muito que ela apareça mais, por mim tinha 10 temporadas só de série dela.
Vendo (2): A Casa do Dragão, mais pelo apego com Daenerys nas duas primeiras temporadas do que pela vontade de ver uma nova história, mas essa não tá de todo ruim. Minha personagem favorita é a Healena.
É isso, gente. Vejo vocês na semana que vem.