Um nome e uma passa
Esqueci o nome do meu filho. Era uma daquelas madrugadas que parecem não ter fim em que achei que já era quatro horas da manhã, mas não passava das duas. Tinha esfriado e eu precisava fechar a cortina, o pai dormia de bruços no canto dele e o bebê tinha acordado chorando. Eu olhei para aquela coisinha gordinha, senti uma ternura, um carinho e um amor imenso no meu coração, mas esqueci seu nome. Durou um piscar. Lembrei, peguei ele no colo e saquei o peito para amamentar e ele voltar a dormir.
Me senti menos mãe. Não é difícil, porque todo dia eu me sinto menos mãe por algum motivo diferente, mas esquecer o nome dele, mesmo que por alguns segundos após acordar, me deixou triste.
Eu tenho um histórico desses esquecimentos. Já esqueci nome da minha mãe, de namorado, do meu companheiro atual e sempre dura esses nanossegundos onde eu me sinto outra, perdida, longe. É rápido, mas a sensação fica.
Hoje olhei para o meu menino e me dei conta de que já foram seis meses mantendo um ser humano inteiro vivo - e mais 40 semanas e 3 dias dele dentro da minha barriga antes disso.
Ele tem nome, mas não é o nome que define nosso vínculo. Eu não preciso mais ficar triste.
Entre voltar a trabalhar e sair do turbilhão da maternidade exclusiva, me peguei pensando no quanto às vezes me sinto deslocada. Veja bem, eu tenho um companheiro com quem divido a vida, o que inclui as tarefas da casa e o cuidado com o bebê, mas eventualmente acordo no automático pra amamentar e me sinto desamparada. Não sozinha, porque o bebê olha pra mim, pega na minha mão e eu sinto que sou invencível. Ainda assim, há essa desolação como se existisse um deserto entre mim e o mundo das outras pessoas. O mundo com trabalhos, planilhas, reuniões, jobs. O mundo com jantares, com viagens, com café no fim do dia. Eu me sinto isolada dessas outras pessoas.
E, para ser bem sincera, não sei se acho isso ruim. Eu me encontro em estado presente para a pessoinha que importa, forneço alimento, colo, cuidado, paciência e amor. Eu tenho saudade desse outro mundo, mas não me sinto mais parte dele. Talvez um dia eu volte, visite, fique de novo. Agora, não me contempla mais.
A verdade é que eu quero um monte de coisas também, que vão além de poder cuidar do meu filho. Mudar de profissão, trabalhar 100% remoto e no meu horário, aprender a cozinhar melhor, ter uma rotina bacana de exercícios e estudo. Ainda sinto a suspensão dos planos enquanto as coisas acontecem muito rápido ao meu redor. Eu só espero. E espero. E espero.
Me apego no “vai passar”. Não só o sono errático do bebê, a dor nas costas e esse conjunto novo de sensações que aprendo a nomear, mas porque lembro de minha mãe dizer, sorrindo, que tudo passa, até uva passa. E mãe sabe.
The Three Ages of Woman (Klimt)
Na Piauí, Nando Reis falou sobre sua recuperação do vício em álcool.
Essa news “Coifa” sobre comida é muito gostosinha. Eu também gosto da Outra Cozinha.
Eu também curto o jornalismo do site O Joio e o Trigo. Acho que tô ligadona nesse tema porque o bebê vai começar a introdução alimentar.
Que compartilhar honesto e vital.
Desejo que este teu mundo seja de paz e acolhida, que você crie novos desejos, novos caminhos, e que a espera também passará.
Carol, eu acolho as suas dores, suas dúvidas, todas as suas questões. Concordo plenamente com a sua mãe sobre “tudo passa”. Mesmo não estando fisicamente com você, em alma estou. Agora, você disse que quer aprender a cozinha melhor… e me pergunto: “melhor do que já é?” Aí eu vou ter que ir morar com vocês!